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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Ainda ansiando por Mitt: alguns doadores do Partido Republicano esperam que Romney entre na corrida presidencial

Publicado originalmente pelo National Review

Por Eliana Johson e Elaina Plott



Embora esse ciclo eleitoral supostamente tenha apresentado o mais impressionante quadro de candidatos presidenciais republicanos em décadas, alguns dos principais doadores e financiadores do partido permanecem desapontados com suas opções. Eles estão olhando para trás, e apostando as fichas em Mitt Romney. Esses redutos continuam a esperar que o antigo governador de Massachusetts, que disse em janeiro que não iria concorrer pela terceira vez, mude de ideia. Eles acreditam que ele pode dissipar o caos que tem reinado sobre o campo republicano por meses. Embora tenham dado muito dinheiro para a campanha presidencial de Romney, esse ano eles estão mantendo suas carteiras fechadas, esperando que ele entre novamente na briga. 

O Dr. Greggory Devore, que em 2012 levantou mais de $1 milhão para Romney, é um desses homens. Ele até mesmo imprimiu adesivos "Romney 2016," e seu Audi S8 preto tem dois colados atrás. "Romney 2016," eles dizem, "Eu falei pra você, vamos fazer acontecer."





"O cara foi profético no que ele viu," DeVore disse de Romney. "Nessa campanha," diz ele, "eu não posso enviar um centavo para ninguém, porque eu não consigo ver um futuro."[1] De acordo com DeVore, vários dos principais doadores de Romney estão mantendo a mão fechada porque "reconhecem que as pessoas que estão na disputa atualmente, não são do mesmo calibre que Mitt Romney." "Eles estão olhando em volta e se perguntando, 'há alguém mais em quem acreditar?' E a resposta é não." Dave Van Slooten, um antigo investidor de Wall Street, que doou mais de $50.000 para Romney, disse que está igualmente desapontado com os candidatos atuais do GOP.[2] "Tivemos uma exposição de todos os candidatos no último debate, e eu pessoalmente não acho que qualquer um deles se comparem ao Mitt," disse Van Slooten. Sentimentos como estes estão borbulhando enquanto alguns dos principais republicanos concorrentes lutam com suas organizações de campanha e tropeçam no meio do caminho. Os apoiantes de Romney, alguns dos quais são amigos pessoais da família e estão divulgando publicamente seus sentimentos, agora também destacam a dimensão em que o crescimento de Donald Trump debilitou os outros candidatos e lançou a desordem na disputa. A classe política mais ampla tem estado perplexa com a contínua popularidade de Trump e pelo sucesso de outro político iniciante, o neurocirurgião de fala mansa, Ben Carson. [3] Alguns defensores de Romney vislumbram um cenário no qual o GOP chega a Convenção Nacional Republicana sem um indicado e se volta para Romney em pânico. "Não achamos que devemos esperar até a convenção para ter uma convenção que está em frangalhos," disse DeVore, "penso que as pessoas precisam começar a dizer, 'Romney, você precisa entrar nesse jogo!"

Por sua vez, o establishment republicano não consegue explicar o apelo desses candidatos neófitos e não sabem bem como responder a essa situação, mas ele certamente espera que isso desapareça. [4] O fracasso de vários candidatos mais experientes para lidar com essas forças de ruptura prejudicou suas campanhas e desapontou doadores.  A revista Politico relatou no fim de semana que três dos principais angariadores de fundos abandonaram o antigo governador da Flórida, Jeb Bush, devido a conflitos de personalidade e dúvidas sobre a força de sua campanha. O New York Times acompanhou um relatório indicando que, depois de uma extraordinariamente e bem sucedida blitz de angariamento de fundos, a campanha de Bush está se esforçando para atrair novos doadores. A resposta do governador de Wisconsin, Scott Walker, para o crescimento de Trump tem sido criticada por todos, e mesmo seus apoiantes estão agora dizendo que sua campanha precisa ser reinventada. 

A campanha de Romney, é claro, teve muitos erros estratégicos. Mas os apoiantes do governador dizem que ele é simplesmente mais qualificado, tanto nos negócios como na política, do que qualquer dos atuais candidatos do Partido Republicano, e os eventos subsequentes à sua campanha demonstraram a verdade básica de muito do que ele disse durante a corrida de 2012. Romney predisse, por exemplo, que Vladimir Putin era uma ameaça emergente e que o Islã radical estava em ascensão, afirmações que o Presidente Obama ridicularizou completamente na época. 

"Eu acho que há alguns bons candidatos no cenário," disse Mike Hawkis, um financiador de Romney da Califórnia. "O problema é que nenhum deles tem a visão, a capacidade e o comando do Sr. Romney."

É esse comando que muitos dizem que trariam alguma calma para a loucura que tomou conta da corrida quando Trump entrou na disputa em junho de 2015. "Mitt provou estar certo sobre assuntos críticos e eu meio que sinto que Trump tornou isso tudo em um circo," diz Van Slooten.

DeVore prediz até mesmo que o establishment irá juntar-se a seu chamado para que Romney entre na corrida. "O establishment republicano, quando eles verem essa coisa toda continuando como está indo, eles vão enlouquecer," ele diz. "Vão bater na porta e dizer, 'Mitt, onde você está? Precisamos de você.' Eles vão ter que arrastá-lo para a corrida."  

Quando Romney sinalizou inicialmente interesse em concorrer pela terceira vez no ano passado, antigos assessores e doadores da campanha se reuniram em torno dele, muitos deles incentivando-o a se lançar novamente. Ele deixou muitos deles surpreso e desapontado quando, numa teleconferência em janeiro, anunciou que se decidiu a não participar da disputa e disse que esperava que um candidato mais jovem e menos conhecido surgisse. Desde então, vários dos que eram torcedores do governador se juntaram a outras campanhas. Um antigo financiador do governador, que pediu anonimato para falar livremente, disse que o sucesso de uma potencial candidatura de Romney dependeria do extensão de sua capacidade de atrair doadores já alinhados com outros candidatos. "É difícil fazer isso," diz ele. O proprietário do New York Jets, Woody Johnson, um dos principais angariadores de fundos, está agora servindo como presidente financeiro nacional de Bush. O fundador do Home Depot, Ken Langone, que tentou trazer Chris Christie para a corrida em 2011, está agora empenhado solidamente na campanha do governador de Nova Jersey.

Alguns seguiram em frente antes mesmo de Romney desistir oficialmente da corrida em janeiro. O investidor da Califórnia, William Oberndorf, que apoiou Romney em 2008 e 2012, exortou aos doadores que já tinham se comprometido com Bush a manter o compromisso com ele independente da decisão de Romney. Em uma carta para 52 republicanos, incluindo o antigo secretário de estado George Shultz, o investidor Charles Schwab e o bilionário de Michigan, Betsy DeVos, ele escreveu: "Nós temos sorte com Jeb Bush por termos um candidato extremamente talentoso e capaz que, eu acredito, tem uma melhor perspectiva de vencer as eleições gerais do que Mitt. Além disso, Mitt concorreu duas vezes e teve sua chance de ser presidente. Agora ele deve ceder a oportunidade para outros." Alguns antigos doadores de Romney, como o magnata de casinos de Las Vegas, Sheldon Adelson, e o gerente de fundos, Paul Singer, têm ambos apoiado outro candidato em particular. 

Os apoiantes de Romney insistem que haverá dinheiro caso ele entre. "Ninguém que eu conheço abriu a carteira ainda," disse Hawkins. "Há um monte de contribuição em dinheiro aguardando agora. Se Mitt der ao menos a entender que está interessado, haverá uma inundação de capital imediatamente." Van Slooten diz que ele está declinando convites de todos os levantadores de fundo do Partido Republicano esse ano mas "apoiaria uma candidatura encabeçada por Mitt tanto quanto eles solicitassem." Outros dizem que o que eles aprenderam em 2012 é que um homem como Romney, a despeito de todas as suas qualificações, simplesmente não pode vencer nesse dia e época. Frank Gooch, outro doador de Romney, cujo filho trabalhou na equipe de finanças do governador em 2012, disse que embora ele ache que Romney seria o melhor candidato e um "tremendo, tremendo, tremendo presidente," ele simplesmente não acredita que um homem branco pode vencer as eleições gerais concorrendo sob o rótulo de "republicano." Ele está apoiando Rubio, desta vez, embora ele não tenha investido tanto dinheiro como fez quatro anos atrás. A despeito dos desejos de seus mais ardentes defensores, se Romney vai realmente entrar na disputa é outra coisa. Ele disse estar observando de perto os acontecimentos mas não deu nenhuma indicação de que mudou de ideia desde que recusou a candidatura em janeiro. Um porta-voz de Romney não respondeu a um pedido de comentário. 

Hawkins coloca as chances de um "Romney 2016" em cerca de 20%. E DeVore assinala que, em sua teleconferência com apoiantes, Romney não desconsiderou inteiramente a candidatura. "Já me perguntaram, e certamente vão perguntar novamente, se há qualquer circunstância que possa se desenvolver que poderia me fazer mudar de ideia," ele disse. "É improvável." Certamente, na esperança desses homens, o governador não teria previsto o crescimento de Trump. Mas o antigo doador de campanha de Romney está inseguro. Romney é "um homem de palavra," diz o doador."Ele já se posicionou. Ele não é alguém que toma decisões de forma insegura. Esse é o motivo pelo qual ele seria um grande presidente." Ainda assim, na ausência de qualquer um que ele ache que faria uma melhor presidência, DeVore cruzará o sul da Califórnia em seu Audi, esperando que seus adesivos gerem entusiasmo.

Eliana Johnson é a editora do National Review em Washington. Elaina Plott é uma bolsista William F Buckley em jornalismo político na National Review.

Tradução: João Henrique Pereira

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NT
1. As prévias republicanas são disputas internas do partido durante as quais os candidatos concorrem para serem o escolhido, na Convenção Nacional do Partido Republicano, para disputar as eleições gerais. 

1. Grand Old Party, ou simplesmente GOP, é como o Partido Republicano é conhecido popularmente nos EUA;

2. Atualmente Ben Carson caiu nas pesquisas e está atrás de alguns políticos veteranos como os senadores Ted Cruz e Marco Rubio. Trump, por sua vez, se mantém estável no primeiro lugar em todas as pesquisas;

3. Ver a polêmica gerada entre Trump e o establishment republicano após as declarações do candidato sobre as medidas para conter a ameaça do terrorismo islâmico.

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