O texto é uma síntese de como as sociedades onde a moral judaica-cristã predomina tendem a realizar as promessas não cumpridas de Marx e seus seguidores. Mesmo de posse de alguns preconceitos sobre os mórmons, aos quais se refere com evidente menosprezo, o autor nos faz relembrar a fórmula do Mestre de reconhecer a verdade, "por seus frutos os conhecereis."
Do blog O Estandarte.
Um Conto de Dois Profetas
Por Lee Harris
"Como é possível que uma religião como o mormonismo tenha sido capaz de resolver problemas que, até o momento, nenhum sistema puramente secular conseguiu?"
Dos dois homens, Marx teve de longe o maior número de seguidores. O Manifesto do Partido Comunista, afinal de contas, é uma obra muito mais atraente e arrebatadora do que o bizarro texto transcrito por Joseph Smith sob a orientação do anjo Morôni. No entanto, qual profecia mostrou-se mais bem-sucedida? Visite a Rússia para ver o que os seguidores de Marx alcançaram, e depois cruze meio mundo e visite Salt Lake City.
Como é possível que uma religião como o mormonismo tenha sido capaz de resolver problemas que, até o momento, nenhum sistema puramente secular conseguiu? Como conseguiram os culturalmente atrasados seguidores de Brigham Young florescer e prosperar no deserto, enquanto os mais brilhantes discípulos de Marx acabaram matando dezenas de milhões de seres humanos em nome do progresso? Qual era o segredo do sucesso de Brigham Young?
Brigham Young acreditava que os seres humanos vieram ao mundo para executar pesado trabalho braçal, e que esse era o único caminho certo para a salvação. Marx e seus seguidores acreditavam que os seres humanos vieram ao mundo para usurfruir dele, e sonhavam com um futuro em que a Humanidade finalmente se libertaria da maldição de Adão – a necessidade cruel de ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Máquinas fariam o trabalho por nós; a tecnologia nos libertaria para que devotássemos nosso tempo a buscar fins mais elevados. O trabalho braçal se tornaria uma coisa do passado – como é hoje para tantos americanos modernos, ou pelo menos para os que receberam educação superior; e o mesmo não é menos verdade para as elites educadas ao redor do mundo que ocupam posições de poder econômico e influência política que as eximem da necessidade de realizar o sujo trabalho da vida diária.
Karl Marx sonhava com um mundo sem trabalho braçal; Brigham Young fez dele um
dever religioso, uma honra e quiçá um privilégio. Deus teria nos abençoado,
dando-nos algo genuinamente produtivo para fazer, como plantar os alimentos que
impediriam que morrêssemos de fome, recolher o lixo dos subúrbios e das
cidades, construir casas, cuidar dos jardins, ou cuidar dos doentes.
Aos olhos de Brigham Young, o trabalho braçal era na realidade a colaboração com o Todo-Poderoso em seu esforço incessante de melhorar o mundo. O mundo, segundo esse ponto de vista, não foi criado perfeito e acabado, como os teólogos letrados tinham em vão tentado argumentar; ao contrário, ele foi deliberadamente deixado em um estado extremamente incompleto. Por quê? Para que o Homem tivesse uma tarefa de real significado para executar; para que ele pudesse tornar-se co-criador do universo.
Tampouco foram os mórmons os únicos a santificar o trabalho pesado. Sua atitude derivava dos ensinamentos de Calvino, que pregava aquilo que Max Weber tornaria famosa como a Ética Protestante do Trabalho – uma ética que emergiu entre os puritanos, quackers, methodistas, shakers e todas as outras comunidades religiosas que glorificavam o trabalho duro e que inevitavelmente acabou tornando os membros desas comunidades tão prósperos que sua riqueza começou a ameaçar o bem-estar de suas almas.
A teologia do trabalho duro é radicalmente oposta à teologia do intelectual. O intelectual deseja contemplar o mundo, e entender como ele funciona. O homem que trabalha com suas mãos deseja mudá-lo, moldá-lo em uma forma mais desejável. Nada importa para ele em uma idéia além do que Willian James chamava de “valor-dinheiro” – seu significado na vida diária de pessoas concretas.
A filosofia americana conhecida como pragmatismo pode ser compreendida como um método pelo qual os intelectuais tentam recociliar-se com as religiões de trabalho duro. Ela olha para figuras como Brigham Young e diz, “eu concordo que há muito no mormonismo que é francamente ridículo e absurdo. Mas olhe o que os mórmons foram capazes de fazer. Eles pegaram um deserto e o transformaram em um jardim.”
Marx diz, na conclusão do Manifesto do Partido Comunista, “Trabalhadores do mundo uni-vos; vocês não têm nada a perder além de suas correntes; mas têm um mundo a ganhar.”
Afortunada foi a sorte dos trabalhadores do mundo que decidiram unir-se em Salt Lake City, sob a liderança de Brigham Young. Eles não ganharam um mundo; eles fizeram um, tal como os protestantes holandeses construíram seu país drenando o mar. Eles pegaram aquilo que Deus não tinha terminado e completaram para Ele, e para si mesmos.
Quando jovem, Marx argumentava em suas Teses Contra Feuerbach que a filosofia tinha contemplado o mundo por tempo demais, e que o momento para mudá-lo havia chegado. Mas quando os intelectuais tentaram melhorar o mundo sempre acabaram por piorá-lo. Apenas os fanáticos religiosos que foram loucos o suficiente para acreditar que o trabalho duro dos indivíduos era um dever sagrado tiveram sucesso em mudar a condição material da humanidade para melhor.
Lee Harris é autor do livro: “Civilization and Its Enemies: The Next Stage of History”.
Aos olhos de Brigham Young, o trabalho braçal era na realidade a colaboração com o Todo-Poderoso em seu esforço incessante de melhorar o mundo. O mundo, segundo esse ponto de vista, não foi criado perfeito e acabado, como os teólogos letrados tinham em vão tentado argumentar; ao contrário, ele foi deliberadamente deixado em um estado extremamente incompleto. Por quê? Para que o Homem tivesse uma tarefa de real significado para executar; para que ele pudesse tornar-se co-criador do universo.
Tampouco foram os mórmons os únicos a santificar o trabalho pesado. Sua atitude derivava dos ensinamentos de Calvino, que pregava aquilo que Max Weber tornaria famosa como a Ética Protestante do Trabalho – uma ética que emergiu entre os puritanos, quackers, methodistas, shakers e todas as outras comunidades religiosas que glorificavam o trabalho duro e que inevitavelmente acabou tornando os membros desas comunidades tão prósperos que sua riqueza começou a ameaçar o bem-estar de suas almas.
A teologia do trabalho duro é radicalmente oposta à teologia do intelectual. O intelectual deseja contemplar o mundo, e entender como ele funciona. O homem que trabalha com suas mãos deseja mudá-lo, moldá-lo em uma forma mais desejável. Nada importa para ele em uma idéia além do que Willian James chamava de “valor-dinheiro” – seu significado na vida diária de pessoas concretas.
A filosofia americana conhecida como pragmatismo pode ser compreendida como um método pelo qual os intelectuais tentam recociliar-se com as religiões de trabalho duro. Ela olha para figuras como Brigham Young e diz, “eu concordo que há muito no mormonismo que é francamente ridículo e absurdo. Mas olhe o que os mórmons foram capazes de fazer. Eles pegaram um deserto e o transformaram em um jardim.”
Visão noturna de Salt Lake City, Utah. |
Marx diz, na conclusão do Manifesto do Partido Comunista, “Trabalhadores do mundo uni-vos; vocês não têm nada a perder além de suas correntes; mas têm um mundo a ganhar.”
Afortunada foi a sorte dos trabalhadores do mundo que decidiram unir-se em Salt Lake City, sob a liderança de Brigham Young. Eles não ganharam um mundo; eles fizeram um, tal como os protestantes holandeses construíram seu país drenando o mar. Eles pegaram aquilo que Deus não tinha terminado e completaram para Ele, e para si mesmos.
Quando jovem, Marx argumentava em suas Teses Contra Feuerbach que a filosofia tinha contemplado o mundo por tempo demais, e que o momento para mudá-lo havia chegado. Mas quando os intelectuais tentaram melhorar o mundo sempre acabaram por piorá-lo. Apenas os fanáticos religiosos que foram loucos o suficiente para acreditar que o trabalho duro dos indivíduos era um dever sagrado tiveram sucesso em mudar a condição material da humanidade para melhor.
Lee Harris é autor do livro: “Civilization and Its Enemies: The Next Stage of History”.
Título Original: "A Tale of Two Prophets"
Tradução: Luiz Sim
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