A Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias permanece enigmática para a
maioria das pessoas nos EUA. Ainda menos se sabe sobre a participação dos mórmons na política.
Para ser justo,
poucos são os que acompanham questões sobre religião e política
de perto que saibam muito sobre a participação dos mórmons no processo
político.
Mas espera-se que
isso mude. Os cientistas políticos David Campbell (Notre Dame), John
Green (Akron) e Quin Monson (BYU) têm um novo livro sobre os mórmons
na política americana. Seeking the Promised Land é um olhar
compreensivo na política mórmon que mostra o que
um típico membro SUD pensa sobre política.
Apresento aqui meus
cincos destaques do livro, cinco maneiras em que os mórmons são um
“povo peculiar” na política americana.
1. Os mórmons já
foram o inimigo público nº 1 dos republicanos
Quando o Partido
Republicano redigiu a primeira plataforma do partido em 1856, ela
incluía uma resolução clamando para que o Congresso proibisse "nos
territórios essas relíquias gêmeas da barbárie, poligamia e
escravidão”. Isso mesmo. A escravidão não era o único grande
mal a ser erradicado. Também o era a poligamia, praticada
pelos mórmons na época.
Durante a
predominância republicana na política nacional depois da Guerra
Civil, os mórmons foram virtualmente mantidos fora da política. Foi apenas depois que os SUD mudaram sua posição sobre a
poligamia que Utah recebeu a condição de estado. A Constituição
de Utah inclui a cláusula que proíbe a prática: “A poligamia ou
o casamento plural são proibidos para sempre.”
2. Hoje, os mórmons
são mais republicanos do que qualquer outra religião
Esqueça os
evangélicos, quando se trata de religião e política, nenhum outro
grupo religioso é mais solidamente republicano do que os mórmons.
Na década de 60,
apenas um terço dos mórmons se identificavam como republicanos.
Pesquisas recentes mostraram uma porcentagem próxima a 60%. Uma
pesquisa do Instituto Pew Research em 2014 mostrou essa quantidade em
70%. E muitos daqueles que não veem a si mesmos como republicanos
continuam votando no GOP* no dia da eleição. Por exemplo, em
eleições recentes, os mórmons em Utah votaram nos republicanos com
30 pontos a mais do que a média nacional. Em 2012, aproximadamente
90% dos eleitores mórmons de Utah votaram em Mitt Romney.
*Sigla para Grand Old Party, como é também conhecido o Partido Republicano nos EUA.
3. Os mórmons creem
que a Constituição americana é divinamente inspirada
Muitos cidadãos
americanos pensam nos EUA como uma terra abençoada por Deus. Muitos o veem como tendo um papel especial no mundo. Para os mórmons, porém,
os Estados Unidos é literalmente uma nação designada por Deus como
um local onde sua igreja seria restaurada. Os Estados Unidos da
América são parte do plano divino.
Esse plano inclui a
Constituição e a Declaração de Direitos. Em Doutrina e Convênios
(parte do cânone SUD), Deus diz:
E com esse propósito estabeleci a Constituição deste país, pelas mãos de homens prudentes que levantei para esse propósito; e redimi a terra pelo derramamento de sangue. (D&C 101:80)
A Constituição não é vista pelos mórmons como um simples
documento humano. Ela é divinamente inspirada. Não é escritura; é
um documento imperfeito cujos princípios ou fundamentos são
divinos. Essa visão elevada da Constituição é aceita largamente
entre os mórmons. Em uma pesquisa sobre a religião em 2012, 90%
concordaram que a “Constituição dos Estados Unidos e a Declaração
de Direitos são divinamente inspiradas”, com a maioria mantendo
essa visão fortemente.
4. Os mórmons são
politicamente conservadores, com algumas ressalvas
Se você dá a um
típico mórmon um questionário sobre ser um conservador, ele ou ela
aceitaria isso sem problema. Socialmente conservadora, misturada com as visões
de governo pequeno das Montanhas do Oeste, a maioria dos mórmons
mantém posições conservadoras sobre a maioria das questões.
Dito isso, existem
algumas nuances. Sobre o aborto, os mórmons apoiam a visão da
Igreja SUD, que permite o aborto no caso de estupro ou de risco à
vida da mãe. Os mórmons são mais favoráveis a permitir o aborto
nesses casos do que o americano médio (nesse caso, os mórmons são
os mais pró-escolha). Mas sobre o aborto em geral, os mórmons são
o mais pró-vida, opondo-se ao aborto por questões de pobreza da mãe
ou por outra razão particular para ela tomar essa decisão.
Os mórmons são
também mais à favor da imigração, particularmente comparados a
média republicana. Uma das razões é sua exposição à outras
culturas. Mórmons são mais dispostos a verem a imigração como uma
coisa boa se eles tiverem servido em uma missão, especialmente se
serviram em uma missão estrangeira.
5. Os mórmons nem
sempre se envolvem na política, mas, quando o fazem, costumam ter
sucesso
Como outras
religiões, os SUD são primeiramente uma organização religiosa, e
não política. Como um grupo religioso, os mórmons raramente são
mobilizados para causas políticas, mas, quando o são, costumam ser
bem-sucedidos. Poucos mórmons reportaram ter ouvido falar sobre
política em suas Alas (como são chamadas as congregações locais).
As pesquisas mostram que é raro para um mórmon ter a política
mencionada em suas reuniões sacramentais (reuniões de adoração
dominical) ou ensino.
Mas em raras
ocasiões, como a campanha pela Proposição 8 da Califórnia, os
mórmons podem ser politizados. Campbell e seus colegas descrevem os
mórmons como “gravetos secos”. Eles nem sempre estão pegando
fogo (politicamente) mas têm tudo o que é necessário para entrar
em chamas. Eles são altamente organizados, politicamente
hegemônicos e possuem crenças fortes. Quando a Igreja toma uma
posição clara sobre alguma questão, os mórmons são capazes de se
organizar politicamente e serem bem-sucedidos.
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