Élder Neal A Maxwell
Presidente do Primeiro Quórum dos Setenta de
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Universidade Brigham Young
10 de outubro de 1978
Tradução: João Henrique Pereira
Discipulado inclui boa cidadania; e em relação a isso, se você for um estudante cuidadoso das declarações dos profetas modernos, perceberá que, com raras exceções--especialmente quando a Primeira Presidência tem falado--a preocupação expressada tem sido sobre questões morais, não questões sobre partidos políticos. As declarações são sobre princípios, não sobre pessoas, e causas, não candidatos. Em algumas ocasiões, em outros níveis da Igreja, alguns não foram tão discretos, tão sábios ou tão inspirados.
Mas não se enganem, irmãos e irmãs; nos meses e anos seguintes, os eventos requererão de cada membro que ele ou ela decidam se seguirão a Primeira Presidência. Os membros encontrarão maiores desafios para os fazer coxear entre dois pensamentos. (ver 1 Reis 18:21)
O Presidente Marion G Romney disse, muitos anos atrás, que ele nunca havia exitado em seguir o conselho das autoridades da Igreja, "mesmo que isso interferisse em minha vida social, profissional e política" (CR, abril de 1941, p. 123). Essa é uma doutrina dura, mas é uma doutrina particularmente vital em uma sociedade que está tornando-se mais iníqua. Em resumo, irmãos e irmãs, não ter vergonha do evangelho de Jesus Cristo inclui não ter vergonha dos profetas de Jesus Cristo.
Estamos entrando em um período de inacreditáveis ironias. Vamos citar apenas uma dessas ironias que ainda está em seu estágio sutil: veremos em nossa época um máximo de esforço feito, embora indireto, para estabelecer a irreligião como a religião do Estado. Essa é realmente uma nova forma de paganismo que usa as cuidadosamente preservadas e cultivadas liberdades da civilização ocidental para limitar a liberdade, mesmo enquanto rejeita o valor essencial de nossa herança judaica-cristã.
M J Sobran escreveu recentemente:
Os Moduladores da Constituição... proibiram o Congresso de fazer qualquer lei "a respeito" do estabelecimento de religião, assim, deixaram os estados livres para fazê-lo (como muitos deles fizeram); e eles explicitamentee proibiram o Congresso de limitar "o livre exercício" de religião, dando assim à prática religiosa a ênfase retórica que concorda plenamente com a preocupação especial que sabemas que tinham com a religião. É preciso uma ingenuidade em especial para concluir disso uma indiferença governamental com a religião, muito menos um secularismo agressivo. Sim, há aqueles que insistem que a Primeira Emenda realmente prescreve a imparcialidade do governo não somente com uma religião específica, mas com a religião como tal; assim, a isenção de impostos para igrejas é agora considerada inconstitucional. É espantoso [ela continua] pensar que uma cláusula que claramente protege a religião pode ser interpretada como uma exigência de que seja negado a ela um status rotineiramente concedido a estabelecimentos educacionais e de caridade, que não têm nenhuma proteção constitucional. Longe de igualar a descrença, o secularismo conseguiu virtualmente estabelecê-la.
[Ela continua:] O que os secularistas estão exigindo cada vez mais, em sua forma ingênua, é que pessoas religiosas, quando agirem politicamente, ajam apenas em bases seculares. Eles estão tentando igualar a prática da religião com o estabelecimento da religião. E, eu repito, as consequências dessa lógica é realmente estabelecer o secularismo. É, de fato, forçar os religiosos a internalizar a principal premissa do secularismo: que a religião não têm nenhuma relação adequada com os assuntos públicos. [Human Life Review, Summer 1978, pp. 51–52, 60–61]
Irmãos e irmãs, a irreligião como a religião do estado seria a pior de todas as combinações. Sua ortodoxia seria insistente e seus inquisidores inevitáveis. Seu ministério pago seria numeroso. Seus Césares seriam insuportavelmente condescendentes. A maioria entre eles--quando confrontadas com alternativas claras--fariam a escolha de Barrabás, assim como fez a turba a séculos atrás quando Pilatos os confrontou com a necessidade de decidir.
Seu discipulado pode ver o dia em que as convicções religiosas serão fortemente desencorajadas. M J Sobran também observou, "Uma convicção religiosa é agora uma convicção de segunda classe, da qual é esperado que caminhe em deferência para o fundo do ônibus secular, e não reclame sobre isso." (Human Life Review, Summer 1978, p. 58). Esse novo imperialismo irreligioso procura desaprovar certas opiniões do povo simplesmente porque essas opiniões surgem de convicções religiosas. Resistência ao aborto logo será vista como primitiva. Preocupação com a instituição da família será vista como ultrapassada e ignorância.
Em suas formas mais suaves, a irreligião será meramente condescendente com aqueles que possuem valores judaico cristãos tradicionais. Em suas formas mais duras, como sempre acontece com aqueles que são cegados pelo dogmatismo, a igreja secular fará tudo o que puder para reduzir a influência daqueles que ainda se preocupam com padrões como os dos 10 mandamentos. Basta apenas um pequeno passo para que o dogmatismo se torne injustiça--principalmente quando os dogmáticos acreditam estar lidando com pessoas primitivas que não sabem o que é o melhor para elas. Esse é o peso dos burocratas seculares, entendem?
Estou dizendo que o direito de votar das pessoas religiosas está em perigo? Claro que não! Estou dizendo, "Isso é um retorno às catacumbas?" Não! Mas há uma desconsideração pelas opiniões religiosas. Pode haver até mesmo uma desqualificação secreta e sutil de alguns para certos empregos em algumas situações, em um irônico "teste irreligioso" para o cargo.
No entanto, se as pessoas não forem permitidas a defender, afirmar, e praticar, em todas as formas legítimas, as opiniões e ponto de vista que possuem que se baseiam em suas convicções religiosas, que tipo de homens e mulheres eles seriam, afinal? Nossos pais fundadores não esperavam ter uma igreja oficial estabelecida nem ter uma religião em particular favorecida pelo governo. Eles queriam que a religião fosse livre para fazer seu próprio caminho. Nem pretendiam eles ter a irreligião transformada em uma igreja favorecida pelo Estado. Percebam a terrível ironia se essa tendência continuar. Quando a igreja secular vai atrás de seus hereges, onde estarão os santuários? Para qual terra firme ou Rocha de Plymouth podem os futuros peregrinos ir?
Se viermos a nos tornar uma igreja secular, despojada de valores tradicionais e divinos, onde iremos buscar inspiração para as crises de amanhã? Poderemos apelar para a retidão de uma legislação específica para nos apoiar em nossas horas de necessidade? Seremos capazes de buscar abrigo sob uma Primeira Emenda que até lá poderá ser distorcida para favorecer a irreligião? Poderemos confiar, para a contraponto, na educação de valores em nossos sistemas educacionais cada vez mais secularizados? E se nossos governos e escolas falharem conosco, seríamos capazes de retornar à instituição da família, quando tantos movimentos seculares procuram destruí-la?
Pode muito bem ser que, quando nossa época de "padecer afronta pelo nome de Jesus" (Atos 5:41) chegar, que algumas dessas tensões em especial surjam naquela porção do discipulado que envolve cidadania. Lembrem-se de que, como Néfi e Jacó disseram, devemos aprender a suportar as "cruzes do mundo" (2 Néfi 9:18) e também desprezar "a vergonha [dele]" (Jacó 1:8). Continuar apegados à barra de ferro a despeito da zombaria e do escárnio que brotam da multidão naquele grande e espaçoso edifício visto pelo Pai Leí, que é o "orgulho do mundo", é ignorar a vergonha do mundo (1 Néfi 8:26-27, 33; 11: 35-36). Entre parênteses, por que -- realmente por que -- os descrentes que se alinham naquele espaçoso edifício assistem com tanto interesse o que os descrentes estão fazendo? Certamente deve haver outras coisas para os escarnecedores fazerem--a menos que, no fundo de seu aparente desinteresse, haja interesse.
Se o desafio da igreja secular se tornar muito real, vamos, como em todas as outras relações humanas, nos basear em princípios mas ser agradáveis. Sejamos perspicazes sem ser pomposos. Tenhamos integridade e não passemos cheques com nossas línguas que nossa conduta não possa pagar.
Antes da vitória final das forças da retidão, algumas escaramuças serão perdidas. Mesmo essas, porém, devem deixar um registro para que as escolhas perante o povo sejam claras e levem outros a fazerem o que desejarem diante do conselho profético. Também haverá tempos, felizmente, quando uma pequena derrota parecer provável, que outros irão adiante, tendo se agrupados em torno da retidão pelo que nós fizemos. Conheceremos a alegria, naquela ocasião, de ter despertado uma maioria adormecida de pessoas decentes de todas as raças e credos--uma maioria que estava, até então, inconsciente de si mesma.
Jesus disse que quando as folhas da figueira brotam, "está próximo o verão" (Mateus 24:32). Assim advertidos de que o verão está sobre nós, não nos queixemos do calor.