Por João Henrique Pereira
Atualizado em 09.12.2015
Uma crença peculiar da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é sua afirmação da importância da Constituição dos Estados Unidos na preparação do mundo para o retorno final de Jesus Cristo e o estabelecimento de seu reino futuro. Essa crença é afirmada nos cânones da Igreja, está subentendida no texto do Livro de Mórmon e explícita em Doutrina e Convênios, além de ter sido reiterada em declarações de vários de seus líderes. O período inicial da restauração comprova a necessidade fundamental das chamadas liberdades constitucionais para o estabelecimento e propagação da crença dos santos dos últimos dias.
Em 20 de julho de 1787, em uma correspondência para James Madson durante o período da Convenção Constituinte, Thomas Jefferson, autor da declaração de independência e, assim como Madson, um dos Pais Fundadores da nação americana, relatou que não apreciava na Constituição a ausência de "uma declaração de direitos que garanta claramente, sem o auxílio de sofisma, a liberdade de religião [e] a liberdade de imprensa".
Essa declaração viria com a Primeira Emenda à Constituição, que afirma em seu texto: "O Congresso não fará lei relativa ao estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício desta, ou restringindo a liberdade de palavra ou de imprensa, ou o direito do povo de reunir-se pacificamente e dirigir petições ao governo para reparação de seus agravos."
A experiência dos Santos dos Últimos Dias
A Ordem Executiva nº 44 do Estado Missouri ordenou que os santos dos últimos dias fossem expulsos do Estado ou exterminados. |
Mesmo após se estabelecer nas Montanhas Rochosas, a Igreja continuou a sofrer forte oposição do governo, desta vez por parte do governo federal dos EUA, que incluía a insistente recusa em conceder ao território Deseret a condição de Estado e a pressão para que a Igreja abolisse a prática da poligamia. De fato, a campanha antimórmon foi tão eficaz nessa época que muitos dos preconceitos contra a Igreja veiculados pela imprensa e na literatura da época ainda persistem no imaginário de muitos.
Em 27 de julho de 1847 o Profeta Joseph Smith e o Patriarca Hyrum Smith são assassinados na Cadeia de Carthage. |
Mesmo após a morte de Joseph, os santos continuaram a sofrer perseguições, forçando-os a fugirem para o Oeste em busca de liberdade religiosa. |
Em 27 de março de 1833, na oração de dedicação do Templo de Kirtland, Joseph Smith orou para que "os princípios que foram tão honrosa e nobremente defendidos por nossos pais, ou seja, a Constituição [dos Estados Unidos, fossem] estabelecidos para sempre." Reunimos abaixo algumas citações do profeta sobre a liberdade de crença que revelam seu amor por esses princípios constitucionais e demonstram o caráter nobre desse grande servo do Senhor:
Regras de Fé 1:11: "Pretendemos o privilégio de adorar a Deus Todo-Poderoso de acordo com os ditames de nossa própria consciência; e concedemos a todos os homens o mesmo privilégio, deixando-os adorar como, onde ou o que desejarem."
"Consideramos ser um princípio justo, crendo que todo indivíduo deveria refletir devidamente sobre a força desse princípio, que todos os homens foram criados iguais e que todos têm o privilégio de pensar por si mesmos no tocante a todos os assuntos relacionados a consciência. Consequentemente, não temos a disposição, mesmo que tivéssemos poder para isso, de privar qualquer pessoa do exercício dessa liberdade de pensamento que o céu tão graciosamente conferiu à família humana como uma de suas dádivas mais preciosas."
"The Elders of the Church in Kirtland, to Their Brethren Abroad", 22 de janeiro de 1834.
"Se foi demonstrado que tenho a disposição de morrer por um 'mórmon', declaro destemidamente perante o Céu que estou igualmente pronto para morrer em defesa dos direitos de um presbiteriano, um batista ou um bom homem de qualquer outra denominação; porque o mesmo princípio que destruiria os direitos dos santos dos últimos dias também destruiria os direitos dos católicos romanos ou de qualquer outra denominação que venha a ser impopular ou demasiadamente fraca para defender-se.
É o amor pela liberdade que inspira minha alma, a liberdade civil e religiosa para toda a raça humana. O amor pela liberdade foi propagado em minha alma por meus avós quando eles me balançavam no colo. [...]
Se eu achar que a humanidade está errada, devo perseguí-la? Não. Eu a elevarei, e a sua própria maneira também, se não puder persuadí-la que meu caminho é o melhor; e não procurarei compelir homem algum a crer no que eu creio, a não ser pela força da razão, porque a verdade abrirá seu próprio caminho."
Discurso proferido em 9 de julho de 1843, em Nauvoo, Illinois.
"Devemos estar sempre atentos aos preconceitos que às vezes se apresentam de modo tão estranho e são tão comuns à natureza humana contra nossos amigos, vizinhos e irmãos do mundo que decidem diferir de nós em questões de opinião e fé. Nossa religião é algo entre nós e Deus. A religião deles é algo entre eles e o Deus deles."
Carta de Joseph Smith e outros a Edward Patrigge e a Igreja, 20 de março de 1839, Cadeia de Liberty.
"Quando vemos qualidades virtuosas nos homens, devemos sempre reconhecê-las, seja qual for a compreensão que tenham em relação a credos e doutrinas; porque todos homens são livres, ou deveriam ser, possuindo direitos inalienáveis e elavadas e nobres qualificações das leis da natureza e da autopreservação para agir como quiserem e dizer o que quiserem, enquanto mantiverem o devido respeito para com os direitos e privilégios de todas as criaturas, sem infringir nenhum deles. Essa é a doutrina que apoio e pratico do fundo do coração."
Carta a James Arlington Bennet, 8 de setembro de 1842, Nauvoo, Illinois.
"Todas as pessoas têm direito a seu arbítrio, pois Deus assim ordenou. Ele fez com que homens fossem agentes morais e deu-lhes poder para escolher entre o bem e o mal; para buscar o que é bom, seguindo o caminho de santidade nesta vida, que proporciona paz de consciência e alegria no Espírito Santo nesta vida e uma plenitude de alegria e felicidade à direita Dele na vida futura; ou para seguir um mau caminho, permanecendo no pecado e na rebelião contra Deus, trazendo assim condenação para sua alma neste mundo e uma perda eterna no mundo vindouro. Como o Deus do céu deixou essas coisas à escolha de cada indivíduo, não queremos privá-los desse direito. Desejamos apenas agir como o fiel atalaia, de acordo com a palavra do Senhor revelada a Ezequiel, o profeta (Ezequiel capítulo 33, versículos 2, 3, 4 e 5), e deixar que as pessoas façam o que lhes parecer melhor."
Carta da Primeira Presidência aos santos de Kirtland, Ohio, de 8 de dezembro de 1839, Commerce, Illinois.
"É um dos princípios de minha vida, o qual tenho desenvolvido desde a infância, tendo sido ensinado por meu pai, permitir que todos tenham liberdade de consciência. [...] Em meus sentimentos estou sempre pronto para morrer defendendo os fracos e oprimidos em seus direitos justos."
Discurso proferido em 15 de outubro de 1843, em Nauvoo, Illinois.
"Não se intrometam na religião de homem algum: todos os governos deveriam permitir que todo homem desfrutasse sua religião sem ser perturbado. Ninguém está autorizado a tirar uma vida devido à diferença de religião, a qual todas as leis e governos deveriam tolerar e proteger, seja ela certa ou errada."
Discurso proferido em 7 de abril de 1844, em Nauvoo, Illinois.
"Cultivaremos a paz e a amizade com todos, cuidaremos de nossos próprios assuntos e seremos muito bem sucedidos e respeitados, porque ao respeitar os outros, respeitamos a nós mesmos."
Carta ao redator do Nauvoo Neigbbor, escrita em 10 de fevereiro de 1844.
"Embora nunca tenha tido o desejo de obrigar qualquer pessoa a aceitar minha doutrina, regozijo-me de ver o preconceito dar lugar à verdade e as tradições dos homens serem dispersadas pelos puros princípios e o Evangelho de Jesus Cristo."
Carta a Joseph L. Heywood, escrita em 13 de fevereiro de 1843, em Nauvoo, Illinois.
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